Revista Alpha

A criança protagonista

Anderson Oramisio Santos — 2024-06-18

O presente estudo objetiva apresentar reflexões e análises compartilhadas sobre a concepção de criança como sujeito de direito, o que é destacado no documento normativo da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que ressalta a referida etapa como início e fundamento de todo processo educacional, apresentando uma perspectiva pedagógica que vê a criança com ser social, histórico e cultural. Nesse documento são nomeados e explicitamente descritos os seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento para toda criança brasileira: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se. Esses direitos enfatizam a importância de uma abordagem ativa e participativa na aprendizagem das crianças, abrangendo aspectos emocionais, sociais, cognitivos e culturais. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica-documental. O estudo evidencia que a Educação Infantil é vista como um campo complexo de relações, em que a criança é reconhecida como protagonista, um ser ativo, pensante, observador, criativo e questionador, o que interfere nas funções das instituições de Educação Infantil e do professor, proporcionando tempos e espaços que estimulem a ação, a exploração, a transformação e o professor mediador priorizando as experiências e brincadeiras.

A pedagogia de ensinar o ‘surdo-mudo’ em Portugal em oitocentos

Ernesto Candeias Martins — 2024-06-18

Este estudo, de índole histórico-descritiva, utiliza uma metodologia hermenêutica para analisar fontes, documentos e a história ‘especial’ sobre os ‘surdos-mudos’ em Portugal, abrangendo os séculos XIX e parte do XX. O termo ‘surdo-mudo’ sofreu influências positivistas e estruturalistas, resultando em alterações ortográficas que modificaram o seu valor cultural e o transformaram num instrumento de ‘normalização’, atualizando-se com novas lógicas e perspetivas científicas, especialmente provenientes da medicina. Os objetivos deste estudo são os seguintes: compreender historicamente a atenção educativa e o ensino aos ‘surdos-mudos’ no período analisado; analisar o papel pioneiro do Real Instituto de Surdos-Mudos e Cegos da Casa Pia e de outras instituições, como o Instituto Jacob R. Pereira, no ensino dos ‘surdos-mudos’; conhecer os contributos do Padre Aguiar para o ensino dos ‘surdos-mudos’ nos institutos; e analisar a pedagogia e os métodos de ensino aplicados aos ‘surdos-mudos’. Este trabalho contribui para a História da Educação dos Surdos-Mudos em Portugal.

Cecília Meireles

Stephanie Chantal Duarte Silva — 2024-06-18

O presente trabalho estuda como a recepção crítica do livro Viagem (1939) contribuiu para que Cecília Meireles ocupasse um lugar singular no panorama da literatura brasileira e tece reflexões sobre a relação dos críticos, poetas e escritores com a produção poética de Cecília nesse livro. Dessa forma, busca-se entender qual a relevância do livro Viagem para a crítica literária brasileira. Para tanto, aborda-se como esse livro foi recepcionado tanto pela crítica brasileira quanto pela crítica portuguesa. Para reforçar o embasamento teórico deste trabalho, foi feita referência a textos da fortuna crítica da poeta que estabelecem um panorama crítico do livro Viagem, além de alguns teóricos que discursam sobre a relação de Cecília Meireles com o tempo e com os movimentos literários, a exemplo de Mário de Andrade (2012), Darcy Damasceno (1987), Alfredo Bosi (1978), Otto Maria Carpeaux (1960), entre outros.

O outro lado da linha

Gustavo Luís de Oliveira — 2024-06-18

Em A hora da estrela, de Clarice Lispector (1977), o narrador-personagem Rodrigo S. M., ao se deparar com a impactante história de Macabéa, uma nordestina emigrada no Rio de Janeiro, não vê outra possibilidade se não regurgitar a trama dessa inocente heroína que o corroeu através das palavras, com intuito de simbolizar o real para lidar com essa figura. Uma característica singular dessa personagem é não pensar em outra vida, não pensar no outro lado da linha. Embora essa possa parecer uma simples trama, é também revelador de uma constante inquietante que circunda a heroína, que é o de infamiliar (unheimlich), que é o encontro de uma realidade infamiliar que também é, de certo modo, familiar. O objetivo do presente artigo é analisar o conceito de infamiliar de Freud (2019), perpassando pela figura do narrador Rodrigo S. M. e da heroína da história, Macabéa, no último romance de Lispector.

Diva, de José de Alencar

Rafael Curty Ribeiro — 2024-06-18

O presente artigo, organizado em três seções, tem como objetivo investigar o impacto do Romantismo no Brasil e em sua literatura. A primeira seção discute o surgimento das narrativas românticas no país, com destaque para o romance de costumes e/ou urbano, que rapidamente ganhou popularidade entre os leitores brasileiros. A segunda seção analisa o papel do romancista José de Alencar, conhecido por sua vasta produção de romances, especialmente os de cunho urbano, ambientados na cidade e com personagens representativos da burguesia carioca. Por fim, a terceira seção realiza uma análise do romance de costumes Diva, de José de Alencar, com o propósito de oferecer uma visão da sociedade carioca do século XIX. O embasamento teórico deste estudo é fundamentado em autores como Candido (1981, 2002), Pereira e Gillies (2018), Costa e Santos (2021), Machado (2001), Marco (1993), Borges (2005), Silva (2011), Bastos (2015) e Rodrigues (2010).

O duplo em Um Exu em Nova York, de Cidinha da Silva

Larissa Carolina de Andrade — 2024-06-18

As africanidades são preocupação recorrente na escrita de Cidinha da Silva. Trata-se de uma reinvenção possível de África nos lugares para onde nossos ancestrais foram levados, de modo a dialogar, na contemporaneidade, com os meios de comunicação de massa e os lugares comuns. As dezenove histórias que integram Um Exu em Nova York trazem a imagem de um Exu-comunicador, um Exu-mensageiro entre mundos material e espiritual, ancestral e contemporâneo. Tais ambivalências são uma constante nos contos. A duplicidade enunciativa acontece pelo modo como os atos de enunciação articulam seus enunciados (aquilo que eles dizem) com a enunciação (o evento enunciativo que os constitui). Logo, como é gerada a relação entre o dizer e sua relação com o mundo, com os mundos acionados nesse dizer? Daí a ideia de ficção como variação de contextos ganhar relevância, visto que as noções de ato, enunciação e historicidade passariam a serem pensadas conjuntamente.

O olhar do outro em “Torto arado”, de Itamar Vieira Junior (2019)

Daniel Barros Liberato — 2024-06-18

O presente estudo visa discorrer acerca das diversas perspectivas que podem existir dentro de um mesmo romance literário, tendo como objeto de análise a obra Torto arado, de Itamar Vieira Junior (2019). Este trabalho possui um caráter bibliográfico e comparativo, sendo nele utilizadas teorias relacionadas ao narrador, principalmente para demonstrar e analisar a maneira pela qual os distintos pontos de vista podem ser colocados em uma história. Tal proposição buscou entender o modo pelo qual a personagem Belonísia, uma das protagonistas do romance, é percebida pelos outros personagens e como ela os percebe e percebe a si própria. Vê-se que muitas violências por ela sofridas são naturalizadas pela sociedade, enquanto outras são, por exemplo, derivadas de mal-entendidos, porque as visões das pessoas acerca de uma situação variam de acordo com a posição que estão delas — o que não significa naturalizar a violência. De todo modo, ter a compreensão da existência de posicionamentos diversos frente a um mesmo ocorrido pode nos ajudar a entender algo de maneira mais profunda, evitando que simplificações gerem enganos ou, pior, a banalização de processos e atitudes violentas.