As neblinas da travessia
uma tradução intersemiótica
Resumo
Entre uma e outra margem da vida, interpõe-se uma densa neblina que dificulta a travessia. “Viver é muito perigoso” devido às aporias que eventualmente bloqueiam o fluxo dos acontecimentos. Em Grande sertão: veredas, o narrador/personagem demonstra obsessão em resolver os processos dialéticos que vão surgindo durante suas andanças pelo sertão. No entanto, seu discurso se presta tão somente a condensar e estender ainda mais a neblina da dúvida e da indefinição. Levado pelo fluxo da vida, Riobaldo se debate debalde, sem baldear seu próprio rio. Nesse trabalho não se pretende dissipar essas neblinas e sim focalizar sua formação e densidade. Pretende-se seguir o curso das veredas e dos signos no discurso literário de Guimarães Rosa e nas imagens do artista plástico Arlindo Daibert. Busca-se a leitura semiótica da tradução de um sistema sígnico para outro. Faz-se uma curiosa e prazerosa incursão pelas dobras e redobras do discurso em ambas as construções artístico-narrativas. Nessas diferentes linguagens, dois sistemas sígnicos interagem e muitas vezes se imbricam. Cada signo torna-se irradiador de policonotações. Há em ambas uma “clareza relativa” que oscila entre possibilidade e impossibilidade de leitura, uma dinâmica renovadora e uma profusão barroca de elementos. Rosa e Daibert são criadores de obras polissêmicas, cujos signos se desdobram infinitamente.