O outro lado da linha
o infamiliar em “A hora da estrela”, de Clarice Lispector
Palavras-chave:
infamiliar, real, realidade, simbolizaçãoResumo
Em A hora da estrela, de Clarice Lispector (1977), o narrador-personagem Rodrigo S. M., ao se deparar com a impactante história de Macabéa, uma nordestina emigrada no Rio de Janeiro, não vê outra possibilidade se não regurgitar a trama dessa inocente heroína que o corroeu através das palavras, com intuito de simbolizar o real para lidar com essa figura. Uma característica singular dessa personagem é não pensar em outra vida, não pensar no outro lado da linha. Embora essa possa parecer uma simples trama, é também revelador de uma constante inquietante que circunda a heroína, que é o de infamiliar (unheimlich), que é o encontro de uma realidade infamiliar que também é, de certo modo, familiar. O objetivo do presente artigo é analisar o conceito de infamiliar de Freud (2019), perpassando pela figura do narrador Rodrigo S. M. e da heroína da história, Macabéa, no último romance de Lispector.