A simbologia da viagem na Divina Commedia
Palavras-chave:
travessia, simbolismo, exílio, poética, itinerário, hermenêuticaResumo
A Divina Commedia, de Dante Alighieri, figura entre as mais complexas construções simbólicas da literatura ocidental. Sua narrativa de viagem — conduzida pelo poeta através do Inferno, do Purgatório e do Paraíso — constitui, ao mesmo tempo, uma travessia teológica, ontológica e poética. Este artigo tem como tema a simbologia da viagem em Dante, analisando-a como percurso de revelação e de linguagem. A justificativa reside na permanência desta metáfora de deslocamento como uma das mais férteis do imaginário europeu, cuja leitura contemporânea continua a suscitar interpretações múltiplas sobre o exílio, a busca do sentido e o reencontro da palavra. O objetivo geral é compreender de que modo a viagem dantesca, articulada entre o corpo e o verbo, ressoa na contemporaneidade como imagem da condição humana em trânsito. A metodologia adota abordagem literário-histórica e hermenêutica, apoiada em análise de passagens da obra original (La Divina Commedia, ed. Sapegno, 1955) e em estudos recentes que recuperam o caráter geográfico e simbólico do itinerário (Scafa, 2023; Azzari, 2016; Papotti, 2011). O corpus compreende trechos dos três reinos visitados por Dante, com ênfase na abertura do Inferno (“Nel mezzo del cammin di nostra vita”), na travessia purgatorial e na ascensão final. O arcabouço teórico articula conceitos de viagem e revelação segundo Revelli (1922) e o método de leitura simbólica de Auerbach (2015). Os resultados apontam que, em sua reinterpretação contemporânea, a viagem de Dante deixa de ser apenas itinerário escatológico e se converte em figura de uma travessia interior, na qual o homem moderno reconhece a fragmentação do sentido e a necessidade de reencantamento do mundo pela linguagem.

