Sobre a configuração do “bom homem” n'A máquina de fazer espanhóis, de Valter Hugo Mãe
Palavras-chave:
silva, ditadura, escritaResumo
Este artigo objetiva analisar como o narrador-personagem silva, no romance A máquina de fazer espanhóis (2011), dá voz aos sentimentos de inconformidade e remorso, que partindo dele (silva) ganha o corpo da coletividade portuguesa, ocupando um “entre espaço” na grandiosa e decadente nação, entre o antigo e o moderno, o passado e o presente. Frente ao imbricado contexto político que passava a Europa no início do século XX, e suas consequências de ordem ideológica, que culminaram na instalação de regime ditatorial em Portugal, o Estado Novo, nossa análise deságua na ética da escrita ensaiada por silva protagonista em sua rememoração, o artifício de revisão do passado para leitura do presente, defendemos, torna-se uma crítica consistente à democracia. Tais empresas teóricas formam o olhar hermenêutico deste estudo: Torgal (2000), referente à concepção da Europa como o Ocidente a ser defendido, tornando-se um dos fundamentos para impor tirania; Birmingham (2015) e Lourenço (2001), acerca das consequências da ditadura no espírito e no imaginário do país, já distante de uma economia competitiva; e Klinger (2014), para refletirmos o sentido da escrita para silva e como isto se torna uma abertura para repensarmos questões político-econômicas portuguesas, e em maior escala, ocidentais, engendrando, assim, uma ética da escrita.