A escuta que salva
Míchkin e o episódio de Marie como expressão da ética da presença, em “O idiota”, de Fiódor Dostoiévsk
Palavras-chave:
Dostoievski, escuta, ética, infância, compaixãoResumo
Este artigo analisa o episódio de Marie em O idiota, de Fiódor Dostoiévski, como expressão concentrada da ética que orienta o príncipe Míchkin. Ao escolher não castigar, não corrigir nem doutrinar as crianças que agridem Marie, mas simplesmente estar com ela, Míchkin revela uma forma radical de virtude: a compaixão como escuta encarnada. O gesto, silencioso e afetivo, desarma a violência não por confrontação, mas por contaminação afetiva. Propõe-se que esse episódio se articula com uma concepção de beleza não estética, mas ética, e se aproxima da postura de Aliócha Karamázov junto às crianças em Os irmãos Karamázov, configurando o gesto de escuta como forma de redenção silenciosa do mundo.